terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Compaixão E Respeito - Os Milagres Do Coração


Lembrei-me de uma fase muito marcante em minha infância. E essa lembrança diz respeito à compaixão e respeito.

Algumas vezes por mês eu presenciava meu avô ajudando um senhor muito simples que sempre aparecia no portão de nossa casa pedindo uma ajuda. Seja com dinheiro ou comida, porque para ele não importava qual ajuda receberia, mas a qualidade dessa ajuda. O valor que vinha do coração de meu avô (Vovô Dedeco) não tinha preço. E eu cresci me acostumando vê-lo ajudar aquela pessoa tão simples e ausente de privilégios sociais.

Vovô Dedeco (Antônio Manoel de Freitas) foi um homem como qualquer outro, cheio de defeitos e fraquezas. Mas eu via algo mais entre ele e aquele senhor. Muitas vezes tentei entender por que vovô se dedicava sem se revoltar mesmo após um dia estressante de trabalho. Eu o admirava, como ainda o admiro em sua memória. Principalmente por ter me ensinado valores tão puros, simples e eternos que, naquela época, minha infantil idade impedia compreender. Eu não tinha maturidade suficiente para enxergar que aqueles gestos de carinho iriam me influenciar positivamente na minha formação humana para o resto de minha vida. Afinal, eu não conhecia os valores da vida de uma forma tão profunda. Forma essa que só percebemos ao longo de nossa caminhada. Observando e sentindo.

Eu via amor puro naqueles dois senhores, mas eu não conseguia explicar. Não tinha a sabedoria suficiente para entender que meu avô estava, diretamente, construindo um lugarzinho no Céu. Sabedoria que busco todos os dias através de meus erros, acertos e pelas observações que faço nas pessoas ao meu redor.

Os seres humanos são nossos melhores professores. E vovô tinha um verdadeiro “Doutor” ao seu lado. Uma pessoa que o purificava toda vez em que nos dava a honra de sua presença. Presença muitas vezes, acredito eu, ansiada por vovô, mas nunca exposta publicamente. Seu coração foi embora cheio de segredos e mistérios que eu nunca conhecerei, mas eu desconfio até hoje que havia um grau de parentesco entre aqueles dois senhores tão simples. Talvez por isso eu ainda ache que aquele homem deveria ser algum irmão de vovô que não conheci. Um irmão bastardo, talvez, mas com uma fisionomia tão semelhante que consigo visualizar até hoje seus traços: O rosto fino, as rugas, o cabelo ralo, a estrutura óssea magra e os olhos caídos, como se estivesse sempre pedindo auxílio.

Vovô Dedeco, acredito eu, foi um “Professor Silencioso”, pois não precisava anunciar o bem que fazia aos outros. Ele simplesmente agia.

Temente a Deus, assim como minha avó Ida Brunelo de Freitas (Vovó Ida), vovô rezava o terço todos os dias com vovó em frente ao oratório que havia em cima do guarda-roupa do seu quarto, que possuía uma imagem de Nossa Senhora Aparecida feita de bronze ou prata, vinda da Itália. E, mesmo sabendo que um dia iria morrer, acredito que ele nunca imaginou que seu exemplo de amor ficaria enraizado no meu coração por toda vida. Exemplos de compaixão e respeito que nunca esquecerei.

Então, num certo dia comecei a sentir falta daquele velho senhor. Ele já não aparecia com a mesma freqüência de antes. E eu já havia me acostumado com sua presença e nossas conversas, que aconteciam todas as vezes que vovô não tinha tempo para atendê-lo. Foi aí que percebi que eu nunca mais iria vê-lo, pois Deus o havia levado deste mundo de sofrimento para que ele atingisse a paz e a pureza em sua nova e eterna vida ao lado do Criador.

Essa foi a primeira vez que eu parei para pensar o que era a morte. O que era a ausência da matéria e onde começavam as lembranças. Finalmente entendi o significado do ciclo da vida.

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